Imagine um hipotético dia ensolarado em uma penitenciária qualquer. Vai lá que um futebolista com a singela alcunha, também hipotética, de "Nordeste da África" está ali tomando seu merecido banho de sol. Vai que aparece outro futebolista, cujo nome perdeu-se dentro do uniforme laranja (antes já foi de cores bem mais vistosas). Hoje responde pelo número 03854. Há um diálogo:
- E aí, beleza?
- Tranquilo, uai.
- Como vai a vida?
- Ah, o mesmo de sempre. Tribunal, cadeia, julgamento, essas coisas...
- Acusação?
- Dizem pro aí que mandei apagar uma ex, picotá-la em pedacinhos, dar aos cachorros, desaparecer com os restos, só para não pagar pensão. E você?
- Tão falando que forjei um sequestro relâmpago, só por conta de atraso na reapresentação no clube... Essas coisas...
Seguem seus caminhos, cada um para sua cela.
- Puta cara burro! Era só dar um troco para a maria-chuteira que resolvia tudo!
- Eita mané do caralho! Era só matar o treinador, picotá-lo em pedacinhos, dar aos cachorros... Essas coisas...
10 janeiro 2011
04 janeiro 2011
O Outro
Sou outro, outra vez
refletido em um rosto que não reconheço
não sei onde me encontro
não sei qual é o preço
da sanidade que não controlo
da ingenuidade que me consola
da concordância com o mundo
ou da revolta que ainda guardo
há na mente tantos quartos !
Tantas lembranças, tantos fardos
mas vou à luta novamente
erguendo-me da lona
onde atirado estava
no fundo da minha vala
que cavei para me defender
dos assaltos ao coração
da covardia e da traição
da minha própria condenação !
sem defesa e sem juiz
me acuso continuamente
por teimar em ser feliz
por sorrir serenamente
enquanto o caos me consumia
levando os socos ainda sorria
fingindo ser tão poderoso
inatingível e inalcançável
Era outro eu que se valia
da bravura e covardia
que dissimuladamente exibia
Estóico !
era o brado que retumbava
nos caminhos que passava
Heróico !
feitos meus que não contei
que nem mesmo acreditei
terem sido obras minhas...
Mas isso é passado de um outro
que guardo longe dos olhares
e me acompanha aos lugares
sem ser visto por ninguém...
Mesmo comigo ele insiste
quer provar que ainda existe
quer provar que é alguém
refletido em um rosto que não reconheço
não sei onde me encontro
não sei qual é o preço
da sanidade que não controlo
da ingenuidade que me consola
da concordância com o mundo
ou da revolta que ainda guardo
há na mente tantos quartos !
Tantas lembranças, tantos fardos
mas vou à luta novamente
erguendo-me da lona
onde atirado estava
no fundo da minha vala
que cavei para me defender
dos assaltos ao coração
da covardia e da traição
da minha própria condenação !
sem defesa e sem juiz
me acuso continuamente
por teimar em ser feliz
por sorrir serenamente
enquanto o caos me consumia
levando os socos ainda sorria
fingindo ser tão poderoso
inatingível e inalcançável
Era outro eu que se valia
da bravura e covardia
que dissimuladamente exibia
Estóico !
era o brado que retumbava
nos caminhos que passava
Heróico !
feitos meus que não contei
que nem mesmo acreditei
terem sido obras minhas...
Mas isso é passado de um outro
que guardo longe dos olhares
e me acompanha aos lugares
sem ser visto por ninguém...
Mesmo comigo ele insiste
quer provar que ainda existe
quer provar que é alguém
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