04 novembro 2013

Sobre listas, Frankfurt e um goiano perdido em Mainz

Coisa de quase um mês atrás, tive uma de minhas melhores experiências como escritor. E divide-se em duas partes. A primeira, da viagem, trato agora. A segunda, de considerações a respeito e seus desdobramentos, retorno daqui a pouco.
Arrisquei os pés para fora do Brasil varonil, pela primeiríssima vez, diretamente na maior feira de livros do planeta. Em Frankfurt. Para quem não havia ido nem ao Paraguai, isso é uma caminhada e tanto. Ou voo, tanto faz. O legal da coisa foi que pude levar meus escritos e de vários parceiros (pessoal do Bar do Escritor, Revista Mitologias do Luiz Augusto de Souza, Histórias dos Sertões de Goiás, de Herculano Wagner). Claro que tenho que lembrar que isso foi um convite super bacana da Izaura Franco, da RF Editora.
Sair do árido clima do Centro Oeste e nossas particularidades enquanto legítimos representantes de uma nação emergente e desembarcar na calculada organização europeia é, no primeiro momento, paradoxal. É perceber que as coisas podem e devem seguir um método, um ritmo constante. Ok, não quero cair aqui na velha e manjada constatação que “lá fora está tudo beleza e aqui é uma bagunça”. Não, nem perto.
Mainz
  Mas perceber as coisas funcionando como um relógio, é legal, bem legal. Pelo pouco que lá estive e também por não ter andado muito fora do roteiro “Feira-hotel-hotel-feira-(poucas)compras-hotel”, o aspecto que melhor pude apreciar foi o do transporte público. É até irônico, vindo de alguém que não utiliza, em sua própria cidade, deste recurso há uns dez anos, mas tenho que dar a mão à palmatória: não conseguiria, nem lascando, participar da feira em Frankfurt estando hospedado em Mainz. Palmas para o excelente serviço prestado pela DB Bahn, com seus trens e bondes sempre no horário.
Pontualidade de pirar o cabeção. E sem funk no bonde... 
No que tange à Feira, o negócio lá é mesmo de tirar o chapéu. O espaço da Messe (Feira, em alemão) foi criado exclusivamente para isso. Há sempre uma feira acontecendo por lá. Com sua própria estação de metrô, fica fácil de ir dali para qualquer canto tanto da cidade, quanto nas vizinhanças. Havia stands de diferentes países, simplesmente uma ONU literária, não sei lá quantos países. E, pelo fato do Brasil ser o convidado de honra, recebemos visitantes de todas as partes, fizemos vários contatos, conversamos, literalmente, com o mundo. Mesmo utilizando meu inglês macarrônico e subnutrido. E ainda aproveitei para aprender alguma coisa em alemão: Ich bin ein schrifsteller. Cortesia do pessoal do apoio, que nos ajudou pra caramba.  
"Lisa, by the way"
Mas nem tudo foram flores: por ficar sempre no mesmo roteiro não tive a oportunidade para conhecer melhor a cidade onde estava hospedado, o que me deu um baita arrependimento no último dia, quando já não tinha tempo para mais nada: Mainz é simplesmente o berço de Gutenberg, o pai da imprensa. Lá fica seu museu que não tive tempo de ir... Catzo. É também um sítio arqueológico dos tempos do Império Romano, além de uma porrada de coisas legais que não fui. Mas beleza, um dia ainda volto como turista em tempo integral...
Schiller




            Como havia dito antes, a segunda é sobre a Feira em si e algumas considerações. A primeira notícia veio antes mesmo de desembarcar em solo alemão: a desistência da participação de Paulo Coelho.
Gostos à parte, entendo seu ato, por uma questão bem pessoal, em se falando da tal lista: já que era para se representar a literatura brasileira, porque vários estados ficaram sem  representação? Não vi o nome de nenhum goiano na parada, assim como ninguém do Piauí, só para ficar em dois exemplos. Tá, alguns dirão que é uma questão de representatividade e blá, blá, blá intelectualóide, mas não vejo como nomes como Miguel Jorge (como lembrou-me Ignácio de Loyola Brandão quando passou por nosso stand, ao ser informado que de Goiás só haviam ido eu e a Izaura Franco, assim mesmo no maior estilo “tocando o f...” com o limite do cartão), Delermando Vieira ou Augusta Faro, possam estar de fora de uma lista dessas. E, se for para lembrar de prêmios e afins, ainda temos o Edival Lourenço, que além de ser um dos ganhadores do último Jabuti (com o Naqueles morros, depois da chuva), ainda é presidente da UBE – GO.  Achei no mínimo injusto com a terrinha do pequi. Mas toda lista é feita para ser criticada mesmo, ainda mais quando está em jogo uma viagem por conta como essa...

             Sobre a barraco mor que rolou por lá, acabei perdendo o início: como cheguei no dia da inauguração, perdi o já famoso e muito debatido discurso do Luiz Ruffato. Só na manhã seguinte pude chegar lá, mas o debate estendeu-se por toda a semana, com prós e contras. Pessoalmente, acho que foi muito corajoso em sua postura, mesmo que para alguns estivesse lavando roupa suja em público. Bateu na canela: somos um paradoxo. O grande país belo, simpático e ao mesmo tempo violento e cruel. O pior é que somos mais cruéis com nós mesmos...
            Mas nem só de polêmica foi feita a participação brazuca na parada. Concorridíssimas foram as participações de Giselle Tigre, soltando o vozeirão (canta muito!), bem como a palestra do Maurício de Souza. Extremamente simpático, esbanjou simpatia e carisma. E, putz, deixei-me levar pelos anos e anos de leitura dos quadrinhos da Tuma da Dentuça (O Cebola sempre foi meu personagem predileto) e vivi meu momento de fã incondicional. Rolou até uma foto meio espremido ao lado dele, devido ao acumulo de pessoas. O lado irônico da coisa foi que no outro dia ele apareceu por lá numas de simples mortal. Aproveitei para apertar-lhe a mão devidamente e dirigir-lhe o apreço pelo trabalho. Ao saber que era uma de minhas influências e que acabei escrevendo por ler demais, mandou um “Agora é com você”. Bem Capitão Planeta.
            No frigir dos ovos, o que conta mesmo é que colocamos a cara à tapa e mesmo levando a parada na tosquice de inglês de segundo grau, com migalhas de alemão para cá e para lá, um tanto de mímica, algumas caipirinhas e afins, conseguimos levar um pouco da cultura de Goiás lá pro Velho Mundo, bem como as letras dos parceiros do BdE e afins. Agradecimentos ao pessoal do Sebrae-GO que nos salvou com uma das passagens, caso contrário a ida seria quase impossível, bem como os contatos na Secult que pavimentaram essa ponte.
            Finalizo aqui citando parte do já falado discurso do Ruffato, só para salientar a dor e a delícia de ser escritor em terras tupiniquins: “Sucumbimos à solidão e ao egoísmo e nos negamos a nós mesmos. Para me contrapor a isso escrevo: quero afetar o leitor, modificá-lo, para transformar o mundo. Trata-se de uma utopia, eu sei, mas me alimento de utopias.”

fiquemnapaz



P.S.

                   Não podia deixar de lado uma parada que acabou rolando por lá:

Homem da Máfia? Não, o homem da pizza... 

         Acima é a frente de uma pizzaria que fica em Mainz, a Pizzaria do Dato, um italiano super gente fina. Na primeira noite lá por aquelas bandas, sem saber onde bater um rango, acabamos (depois de errar o endereço umas três vezes) baixando por lá para arrebentar uma pizza, salva vidas em qualquer lugar do planeta. Por conta do papo que fomos trocando com um dos garçons, um português que foi muito bem vindo para o auxílio com os pedidos, ficamos trocando um papo legal assim que a redonda saia. Daí que o dono, o próprio Dato acabou se achegando e, numa mistura de diversos idiomas fomos falando sobre todas as paradas. Ainda sob efeito da longa viagem e da mistura de sons, Izaura ficava meio à parte da conversa, que nessa hora roda entre times de futebol e a maldição do Paolo Rossi em 1982.
Vai que para estreitar laços acabei perguntando ao italiano de onde ele vinha na bota.
─ Sicilia! ─ respondeu esfuziante, com o característico sotaque.
─ A terra da Máfia? ─ Izaura interveio.
─ Non ─ respondeu Dato, didático ─ La Máfia está em Brasília, capiche?

Tive nem como discordar... 

20 agosto 2013

O que vem por aí

Então, 2013 entrando na reta final e eu com três livros novos. Verdade que dois deles já estão em mãos, mas já que o terceiro acabou de entrar no forno, aproveitarei para fazer os lançamentos de forma simultânea, ou quase... Ei-los: 






Pela Coleção Goiânia em Prosa e Verso, veio meu primeiro (e talvez único) livro de poemas, o "Balada do Homem sem nome". Dissidência (ou desistência) do lendário e impublicado "99 poems to die"...






A nova antologia do Bar do Escritor, "Tomo IV", trampo maneiro com esse povo doido das letras. Verdade que estamos ainda na fase de entrega dos exemplares para a galera, para depois fazermos um lançamento simultâneo, em várias capitais. Em breve, muito em breve. Punk, como sempre...


E, por último, mas nem por isso menos celebrado, a imagem (ainda incompleta) da capa do "Etéreo Ser de Carbono", meu novo filhotinho de contos, vencedor da Bolsa de Publicações Hugo de Carvalho Ramos, da União Brasileira de Escritores - GO. Tá no forno, a criança... 

É isso, assim que tiver maiores informes, mando a letra. 

fiquemnapaz 


P.S. Se quiserem adiantar pedidos, na minha mão é mais barato... 

03 junho 2013

DAS ARTES DO AMOR OU DE QUANDO SENTI A PRESENÇA DE YEDA SCHMALTZ

            Entre os dias 16 e 19 de maio, tive a felicidade de participar da 10ª Galhofada Cultural, aqui em Goiânia. Um evento que por algumas de suas particularidades já seria bastante sui generis, afinal, uma mostra de teatro feita no meio da rua e da comunidade já é por si só algo inusitado, mas que por conta de outros fatores torna-se ainda mais envolvente e impactante.
            Destaque-se que é praticamente uma operação de guerra, com um batalhão de pessoas envolvidas com o intuito único de levar, como diria a música, “diversão e arte” de forma gratuita e sincera para a população. É bom lembrar que os artistas participantes doaram seu tempo e esforço para que o evento acontecesse. Sem cachê, sem patrocínio, sem jabaculê. E sem qualquer apoio governamental ou de alguma lei de incentivo, ato raro em um país rico em cultura, mas pobre em investimentos na área (pelo menos aqueles onde não se vê uma lei de incentivo por perto).
            Entre os que carregam a bandeira do evento, estão a Oficina Cultural Gepetto, o Teatro Zabriske, Grupo de teatro NuEscuro, Cia de Teatro Poesia que Gira, Teatro que Roda, além de vários outros grupos  e abnegados como Marcos Lotufo, que insistem em levar adiante tal empreendimento em nome de algo que está  cada dia mais raro de se encontrar por aí. Estes malucos do bem fazem o que fazem em nome do amor.
            Amor... Pela Arte.
            

Foi lindo ver palhaços, mágicos, atores e atrizes, equilibristas, músicos, artistas das mais variadas gamas dando o melhor de si em atuações de delicado fervor, acompanhados de perto por um público que era composto desde a população das redondezas, gente que comumente não tem acesso a nenhuma forma de arte ou evento cultural, até grandes apreciadores das artes, que ali estiveram para conferir o que acontecia no evento. Bonito de ver também foi o apreço que as pessoas deram à nossa banquinha de troca de livros; crianças, adultos, idosos ou adolescentes, era nítido o olhar reluzente que transmitiam, toda vez que topavam com um título conhecido ou algum exemplar há muito desejado. O exercício da literatura também é isso, aproximar o público dos livros.

            Amor... Pelos colegas de profissão.



Uma das coisas que ficaram impregnadas na memória foi observar de perto a união do pessoal do teatro / circo. De empréstimo de figurino a ajuda para compor público, ali se viu de tudo que um artista pode fazer em favor do outro. Uma camaradagem genuína, daquele tipo que não se vê todos os dias. Arrisco a dizer que, se na literatura local tivesse semelhante movimento, as coisas seriam bem melhores para nossos escritos...
Amor... Pelo próximo.

Além de todo o contingente de artistas que dedicaram tempo e esforço para tal empreendimento, houve também todo um aparato de apoio por trás da lona: cenógrafos, iluminadores, operadores de áudio, até uma cozinha inteira, que alimentou não só o exército de voluntários, como também uma parte de público, que teve a oportunidade de saborear deliciosos pratos no meio daqueles que apresentavam-se por ali. Lembro que, quando desarmava diariamente minha barraquinha de livros, juntamente com a parceira Izaura Franco, quando tinha que carregar algum dos mais variados itens que acabamos levando para estes eventos, geralmente aparecia, assim quase do nada, algum integrante de grupo teatral ou pessoal do apoio e punha-se a ajudar na hora, espontaneamente, como devem ser feitas todas as boas ações. Fica a lição de civilidade e companheirismo, mesmo daqueles que nem cheguei a conhecer devidamente. Registre-se também que, mesmo nos dias de sua máxima lotação, não vislumbrei um único ato de vandalismo ou confusão no local; parece que a aula de cidadania dada pelo evento conseguiu ludibriar até dona violência, que agradecidamente não deu as caras por lá.

 Amor... No ar. Entre o público, entre as crianças, entre os espectadores e as apresentações, entre os músicos, artistas, nos palcos, nas ruas, no cortejo e na Ilha da Galhofa, na Feirinha de Pulgas, debaixo da lona ou no meio do picadeiro, o que se via ali era um exercício de amor. Pela arte, pelo companheiro, pelo próximo.  
            O amor, sempre ele. Até quando apresentou-se em sua singela forma fraternal. Veio por conta do bate-papo descontraído com um dos leitores presentes no estande, Júlio Cesar, que teve a felicidade de partilhar da intimidade de uma grande poetisa como Yeda Schmaltz. Fez ele um emocionado relato daqueles anos que dividiu com sua amiga de tal modo que pode-se sentir como se ela estivesse ali, conosco naquela barraca de livros, trocando impressões sobre o movimento de pessoas e artistas no local, da felicidade que é poder participar de um evento genuinamente artístico, de amor pela arte e pelo outro... A voz, por vezes embargada, fez um retrato fiel do relacionamento ─ conturbado em alguns momentos, como deve ser toda amizade sincera ─ mas, que no fundo deixava entrever o amor que ali existiu até depois do final.
             Exatamente o mesmo tipo de amor que parecia emanar da Ilha da Galhofa, naqueles quatro dias de efervescência cultural.

29 abril 2013

Diário de Viagem de um escritor bêbado - A ida


                    Embarquei em Goiânia às 14:00 horas e, por conta da excelência do trânsito de quinta-feira, só saímos  da  cidade  (pegando o caminho mais rápido, a BR-153),  lá  pelas   16:00h.   E  quando  digo  sair, efetivamente, é deixar até Aparecida para trás. Até porque tudo é um balaio só. Então este foi o começo da viagem, bem devagar, por sinal.
            Transcorremos o sul do estado e ainda não havíamos avançado grande coisa quando lá pelas 19:00 horas uma lua cheia e linda, que parecia desgarrada do céu, irrompeu praticamente ao lado da estrada: a borda do mundo era logo ali. Pensei em pegar a máquina fotográfica e registrar o momento, como outras pessoas estavam fazendo, mas o olho digital nunca consegue registrar devidamente imagem como esta, concedendo-lhe devida beleza.
Há outra verdade embutida aí: a tal máquina havia ficado na outra mala, que repousava calidamente no bagageiro. Juntamente com minha garrafinha da sorte. Já que não podia nem fotografar nem beber, resolvi guardar a imagem na memória, onde ela seria, mais cedo ou mais tarde, etilicamente assassinada.
No transcorrer da viagem, algumas coisas deviam ser observadas. Uma delas é que a divisão de espaço requer por vezes diplomacia; o encosto do banco da frente, por exemplo, devido a um mal funcionamento, escorregava para trás, vindo descansar sobre minhas pernas, nos joelhos, melhor dizendo.  Nada que um breve cutucão juntamente com um pigarro não alertasse o folgado da poltrona que estava incomodando; assim se passou quase toda uma noite em claro. De manhã, mais uma surpresa: a cortina da janela detrás não protegia exatamente minha poltrona do sol (que esgueirava-se SOMENTE para me atingir)... Hora de sacar a jaqueta do fundo da mochila e utilizá-la como guarda sol. Viu como ajeitando aqui e ali consegue se driblar os inconvenientes? Quanta inocência...  
Alguns dos mais malignos males em uma viagem dessa são os sons. Primeiro um celular filho-de-uma-pula-e-peida, daqueles que tocam com música sertaneja da mais grudenta (podia até ser pior, pensando agora... Vai que fosse funk: fodia tudo) e que nunca, jamais, saía da área de cobertura (pelo tanto que tocava, devia ter uma antena com tecnologia do inferno). Mas os piores, mais terríveis e enervantes sons que se ouve em um ônibus chacoalhando perdido no meio do nada provêm de doces e singelas criancinhas...
Crianças são solidárias. Mesmo em Minas (onde já nos encontrávamos, naquela altura). Falam juntas, riem juntas, choram (bastante) juntas. Basta uma começar que as outras seguem rapidinho. Pode parecer escroto isso vindo de um cara que tem uma paciência de Jó com os outros, principalmente as crianças, mas aquelas 17 horas foram de lascar...
Solução: Cerveja.
Abasteça-se do máximo possível de brejas ou qualquer outra birita (melhor olhar isso ANTES de embarcar: nas BR´s o comércio de álcool foi banido). O negócio é mandar tudo pela goela e aguardar o sono de Baco, que o abençoará quilômetros afora...
Se isto não funcionar, faça como diria o Giovani Iemini: vingue-se.
No meu caso, utilizei um recurso condenado pelas Nações Unidas: armas químicas. Entupi-me de todas as piores guloseimas vendidas na beira da estrada (não façam isso em casa: todo o procedimento foi efetuado por um profissional: quitutes vendidos nos estabelecimentos marginais ao caminho podem matar um ser humano comum): ovo cozido, quibe com ovo, ovo em conserva e uns picles, para dar um aroma, digamos, refinado...
Daí foi só escolher um bom livro para ler (no caso, utilizei-me do “Mulheres” do Velho Safado),  e esperar o sistema digestivo fazer a parte dele, enquanto ria à solto das pérolas do bebum mor das letras.
Risos e peidos. Não havia vingança mais ieminiana que isso... E olha que esta era só a ida. 

17 abril 2013

Lançamento de livros no SESC - GO

Programa para sexta, lançamento de livros em conjunto, coquetel incluso. É isso...

fiquemnapaz

14 abril 2013

FLIDF 2013 – Balanço do evento ou Quando encontrei uma música do Renato Russo em carne e osso


É... Tem uma cara que não posto nada por aqui, mas isso tem uma explicação bem simples: estou finalizando a nova cria, “O Etéreo ser de carbono”, um trabalho de parto de 5 anos, entre idas, vindas e alguns prêmios. Mas isso é outra estória, que vem em breve.
Fui sexta passada para “Behrsília” (rebatizei a Capital Federal assim no dia que tomei umas pingas com o M.P. Haikel na Feira do Livro de 2011, quando tomamos um porre e falamos da poesia do Nicholas; outra estória para outra hora), pois o comparsa Giovani Iemini estava desde o dia 08 de maio com um stand do Bar do Escritor na Feira do Livro do Distrito Federal, incrustada no Taguatinga Shopping.
Aterrissei por lá no começo da tarde (aproveitei a chegada para passar na casa de minha madrinha, a incrível “Di”, onde filei uma boia e botei os assuntos familiares em dia, aproveitando o carinho e hospitalidade de costume) encontrando um atônito Giovani atordoado com minha chegada desavisada, de supetão e já caindo matando. Em cinco minutos, já de livro nas mãos, soltei a coleira da língua e vendi o primeiro exemplar: literatura corpo-a-corpo, falando diretamente ao futuro leitor, exemplificando pormenores do livro, mandando um desconto por conta da casa e um autógrafo incluso no pacote, que feira de livro é para isso mesmo.
Após o espanto inicial, o guru do BDE mandou a letra de como estava indo a parada até aquele momento: o pessoal presente reclamava um pouco da divulgação, mas a estrutura encontrada era compatível com outros eventos correlacionados. Mas independente de tudo, o público deu as caras no fim de semana, lotando os corredores do lugar e proporcionando uma interação bem legal.
Fico sempre elétrico quando vejo o interesse das pessoas pelos livros: aquilo atiça a vontade dividir as experiências literárias e foi com prazer que troquei ideias com novos autores, pessoas que estavam ali de livro nas mãos, ainda tentando se jogar no espaço livre do mundo das letras, além de vários amantes da letras, leitores esporádicos, uma pá de concurseiros (quer prestar concurso, vá estudar em Brasília) e outros seres multidimensionais.
 Acredito que, por ter sido a primeira (de outras possíveis), a FLIDF tem tudo para entrar no roteiro da cidade (ou do próprio shopping, se rolar interesse). Daí, com a sequência o evento engata de vez.
O que carregar dessa nova aventura literária? Em primeiro lugar, como em todas as viagens, conhecer pessoas legais, um dos grandes baratos da existência. Destaco algumas, na impossibilidade de lembrar todas: Alaélio, o Cachorrão: um mecânico de motos-quase-macgyver-perito-na-arte-de-curtir; vizinho de stand, passamos o tempo todo atendendo clientes e contando hilariantes histórias dessa porralouquice que chamamos de vida; Márcia, da Best Whishes, um projeto de livros infantis muito interessante, mais uma parceira para a família BDE; Bicudo, uma figura pra lá de divertida, que apareceu no stand com uns desenhos muito punks e estórias idem.
Claro que fico muito agradecido a aqueles que adquiriram nossos livros e espero de coração que curtam bastante, bem como a todos que de uma forma ou outra ajudaram nestes dias de feira. Outro fator legal foi reencontrar o Heron, membro da Academia de Letras de Taguatinga e prova viva que quem quer, consegue. Do Giovani nem vou falar mais: o figura já sabe que “tamos” aí.
Foi difícil deixar a feira em plena tarde de domingo, quando ela apontava um público crescente no último dia, mas a estrada clamava a volta, pois na segunda o bicho pega em Goiânia. E foi a overdose de café e energético que tomei nas duas horas de estrada de volta que acabou lançando-me aqui, pilhado no começo da madrugada, já em casa, tomando uma esquecida cerveja e ouvindo John Frusciante mandar “Before the beginning”... É isso. Missão dada, missão cumprida.

P.S.

Ah, é... Tava esquecendo de explicar a segunda parte do título. Lá em cima, saca? Então, tava lá eu, no meio da feira, autografando um livro para um casal novo, ambos muito solícitos e simpáticos. Daí vem a pergunta de praxe (a falta que uma assistente não faz, tivesse uma, já vinha um post-it do lado, com nome e grafias corretas... mas vá lá, vida de escritor-punk-rock é assim mesmo):
Em nome de quem?
Mônica - disse a moça
Eduardo- emendou o rapaz.
Para Eduardo e Mô... Minha memória adolescente deu um tranco:
Peraí, “Eduardo e Mônica”? Igual à música? – falei animado.
É... – disseram os dois meio acanhados. Saquei na hora que deviam ouvir uma pá de piadinhas por conta da coincidência e que quase fui levado a fazer mais uma piada para o hall de encheção de saco. Tava até com uma na ponta da língua, mas acabei segurando. Só tinha uma coisa a fazer naquela situação: dei meia volta, agarrei outro volume do Bar do Escritor (Brand, o da capa “Jack Daniel´s”).
Tó, vão levar esse aqui por conta da casa – ao ver a cara meio de espanto, meio de desconfiança pela parada que os dois faziam, emendei:
É que nunca encontrei nenhuma lenda da música assim tão de perto.  

Encontrar Eduardo e Mônica em Brasília, numa feira de livro? Merecia prêmio, claro...

P.S 2

Se conseguir, depois posto fotos da parada. Fico devendo, mas quase nunca cumpro...

Fiquemnapaz

04 fevereiro 2013

Aritmética Noturna




Dois copos
um cinzeiro
várias idéias
nenhum rumo

Seis cervejas, dois whiskys
mililitros alcoólicos
dez da noite
noves fora
páginas rabiscadas
péssima caligrafia
sem enxergar direito
tentando escrever poesia:
completamente bêbados
não fizemos porra nenhuma
só o de sempre.