08 janeiro 2023

 

Vendemos essa pilha de livros, pira?


Casos Literários II – É Fama que fala?

 

Essa foi na Bienal do Livro de São Paulo. 2014, um ano muito bom para a literatura, terrível para o futebol. Era no último dia do evento e tanto eu quanto o Wilson R. já estávamos em “ritmo de festa” pois havíamos vendido muitíssimo bem. No meu caso estava com os títulos “O Etéreo Ser de Carbono” e “Jantar ás 11”, no dele, “O Homem da Capadócia”. A feira tinha sido realmente boa. Então fazíamos assim: a cada cinco livros vendidos, a gente escapulia para a área de alimentação e tomávamos uma cervejinha. Isso até conseguirmos contrabandear uma caixa de isopor para dentro do stand, daí a coisa ficou mais fácil, a gente bebia ali mesmo. E quando alguém cismava por conta disso, a gente só mostrava a plaquinha e os livros do “Bar do Escritor” e retrucava que estávamos “bebendo literariamente” e fazendo jus ao conteúdo dos livros. Rolou até visita dos barnasianos (este é nosso epiteto, não confunda com “parnasianos”) Roberto Klotz, Bárbara Leite, Cesar Veneziani e Tamara Cohen, algo que fez com que nossa comunidade virtual por instantes ficasse mais real.

Quando já estava um pouco calibrado, vendi um dos últimos exemplares e enquanto autografava, uma menininha veio do stand do lado – especializado em literatura infantil e de onde a música de “Patati e Patatá” nunca parava de tocar – e ficou parada ao lado, enquanto eu tentava caprichar na caligrafia já desgastada. Daí ela emenda:

− Moço, o senhor é famoso?

Teve aquele meio segundo de silêncio, quando todos nos entreolhamos, especialmente o cara que havia comprado meu livro. Nem vi quando lasquei essa:

− Filha, no SPC e Serasa sou praticamente uma lenda.

Uma risada paquidérmica veio do outro stand, era o pai da garotinha que vinha com uma sacola entulhada de títulos e já foi dizendo:

− Depois dessa vou ter que comprar um livro seu!

− Se a cada merda que eu disser vender um exemplar, saio daqui milionário.

O cara acabou me levando os dois...

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