- Porque você não vai dormir? - Devo estar ficando biruta, pensei. Olhei em volta em não havia ninguém, o botequim estava às moscas. Por ali só eu, meu copo, alguns lexotans que um ciclista insone havia deixado cair na mesa e um pedaço de papel escrito por muitas mãos. - Tô falando contigo, ô bebum! Olhei novamente. Das duas uma. Ou estava ficando míope ou estava muito bêbado. Lógico que era a segunda opção; já era madrugada de domingo, sendo que estava bebendo desde a sexta, depois do sarau... Mas isso é outra história. Foi então que fixei meu olhar perto do cutuvelo e vi uma das minhas pulgas de estimação, que às vezes tira uma de consciência. Alguns têm grilos que falam, já eu tenho pulgas fofoqueiras.
- Cê tá ruim, hein? Vou repetir: porque não vai dormir?
- Tô muito chumbado para isso. Fico com medo de acordar igual ao Hendrix.
- Quem?
- Deixa prá lá. Nãs bastava ser um inseto, tinha que ser desinformada...
- Ah, qualé. Cê tá querendo é beber mais.
- Claro, Sherlock. Decobriu isso quando entrei no botequim ou quando levei o copo à boca?
- Você tá muito razinza.
- Tô nada, boba. Se tivesse, já tinha mordido um ou dois poemas do pedaço. Alguns merecem até mais que isso.
- Tá botando muita banca. Aposto que posso fazer tudo melhor que você.
- Acho que pode sim. Quase tudo, na verdade.
- E o que seria isso? Beber, por acaso?
- Olha, não sou de ficar me gabando sobre isso, mas já derrubei muita gente boa de copo. O Barmen de candango city (mas não foi uma disputa justa; ele tava com uns cigarros vencidos, que fediam muito), Ossípedes, o ébrio, lá nos idos da flipct-flact-zoom... A propósito, vejo que tá com um dedal na mão. Tá bebendo o quê?
- Sangue, ué!
- E eu poderia saber de quem?
- E de quem deveria de ser? É claro que é o seu!
- 3...2...1. - A pulga caiu de cara na mesa. Ajeitei a coitada no canto, peguei os lexotans esquecidos e me levantei para ir no banheiro: - Etanol na veia, filha. E-TA-NOL!
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