Embarquei
em Goiânia às 14:00 horas e, por conta da excelência do trânsito de
quinta-feira, só saímos da cidade (pegando o caminho mais rápido, a BR-153), lá pelas 16:00h. E quando digo sair, efetivamente, é deixar até
Aparecida para trás. Até porque tudo é um balaio só. Então este foi o começo da
viagem, bem devagar, por sinal.
Transcorremos
o sul do estado e ainda não havíamos avançado grande coisa quando lá pelas
19:00 horas uma lua cheia e linda, que parecia desgarrada do céu, irrompeu
praticamente ao lado da estrada: a borda do mundo era logo ali. Pensei em pegar
a máquina fotográfica e registrar o momento, como outras pessoas estavam
fazendo, mas o olho digital nunca consegue registrar devidamente imagem como
esta, concedendo-lhe devida beleza.
Há outra verdade
embutida aí: a tal máquina havia ficado na outra mala, que repousava
calidamente no bagageiro. Juntamente com minha garrafinha da sorte. Já que não
podia nem fotografar nem beber, resolvi guardar a imagem na memória, onde ela
seria, mais cedo ou mais tarde, etilicamente assassinada.
No transcorrer
da viagem, algumas coisas deviam ser observadas. Uma delas é que a divisão de espaço
requer por vezes diplomacia; o encosto do banco da frente, por exemplo, devido
a um mal funcionamento, escorregava para trás, vindo descansar sobre minhas
pernas, nos joelhos, melhor dizendo.
Nada que um breve cutucão juntamente com um pigarro não alertasse o
folgado da poltrona que estava incomodando; assim se passou quase toda uma
noite em claro. De manhã, mais uma surpresa: a cortina da janela detrás não
protegia exatamente minha poltrona do sol (que esgueirava-se SOMENTE para me
atingir)... Hora de sacar a jaqueta do fundo da mochila e utilizá-la como guarda
sol. Viu como ajeitando aqui e ali consegue se driblar os inconvenientes?
Quanta inocência...
Alguns dos mais
malignos males em uma viagem dessa são os sons. Primeiro um celular
filho-de-uma-pula-e-peida, daqueles que tocam com música sertaneja da mais
grudenta (podia até ser pior, pensando agora... Vai que fosse funk: fodia tudo)
e que nunca, jamais, saía da área de cobertura (pelo tanto que tocava, devia
ter uma antena com tecnologia do inferno). Mas os piores, mais terríveis e
enervantes sons que se ouve em um ônibus chacoalhando perdido no meio do nada provêm
de doces e singelas criancinhas...
Crianças são
solidárias. Mesmo em Minas (onde já nos encontrávamos, naquela altura). Falam
juntas, riem juntas, choram (bastante) juntas. Basta uma começar que as outras
seguem rapidinho. Pode parecer escroto isso vindo de um cara que tem uma
paciência de Jó com os outros, principalmente as crianças, mas aquelas 17 horas
foram de lascar...
Solução:
Cerveja.
Abasteça-se do
máximo possível de brejas ou qualquer outra birita (melhor olhar isso ANTES de
embarcar: nas BR´s o comércio de álcool foi banido). O negócio é mandar tudo
pela goela e aguardar o sono de Baco, que o abençoará quilômetros afora...
Se isto não
funcionar, faça como diria o Giovani Iemini: vingue-se.
No meu caso,
utilizei um recurso condenado pelas Nações Unidas: armas químicas. Entupi-me de
todas as piores guloseimas vendidas na beira da estrada (não façam isso em
casa: todo o procedimento foi efetuado por um profissional: quitutes vendidos
nos estabelecimentos marginais ao caminho podem matar um ser humano comum): ovo
cozido, quibe com ovo, ovo em conserva e uns picles, para dar um aroma,
digamos, refinado...
Daí foi só
escolher um bom livro para ler (no caso, utilizei-me do “Mulheres” do Velho
Safado), e esperar o sistema digestivo
fazer a parte dele, enquanto ria à solto das pérolas do bebum mor das letras.
Risos e peidos.
Não havia vingança mais ieminiana que isso... E olha que esta era só a ida.
Um comentário:
vingança ieminiana, adoooooro. hahahhaha
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